domingo, 27 de setembro de 2009

SINTONIA E VIBRAÇÃO

Imaginemos alguém que, com um perfume muito forte, permanece determinado
tempo em ambiente fechado. A fragrância do seu perfume irá se espalhar pelo
ambiente, que ficará impregnado, durante algum tempo, com o odor característico.
Da mesma forma, o resultado do que pensamos e sentimos, fica indelevelmente
plasmado naqueles ambientes que mais costumamos frequentar.
Assim, os nossos lares, os ambientes de trabalho, os locais onde se realizam cultos
religiosos e de outros tipos, ficam com suas atmosferas marcadas pelas formas-sentimento
e formas-pensamento que comumente ali são expressadas. Quem
penetrar em um desses ambientes, inconscientemente ou não, se sentirá inclinado a
sintonizar-se psiquicamente com as vibrações ali caracterizadas, sejam agradáveis ou
desagradáveis.
Por outro lado, se alguém com um perfume muito forte nos abraça, inevitavelmente
herdaremos o odor que dessa pessoa é emanado, seja ele prazeiroso ou não. Da
mesma forma que o perfume alheio nos invade a atmosfera pessoal, as vibrações
espirituais de quem nos abraça também nos invadem a organização íntima, nem que
essa troca energética se processe - e também se conclua - em poucos segundos,
tempo necessário para que as defesas energéticas da aura administrem a invasão
energética. Em resumo, estamos sempre marcando, com a "nossa fragrância
espiritual", as pessoas e os ambientes com os quais convivemos e, ao mesmo tempo,
recebendo a suas influências. Quando e se, as nossas defesas espirituais estiverem
em boa forma, assimilaremos apenas o que nos for positivo e rechaçaremos o que não
for. Esse processo é inconsciente, como também o é o da defesa orgânica que os
anticorpos promovem em nosso corpo, sempre que necessário. É tudo tão rápido que
o cérebro físico-transitório não dá conta, apesar de ser ele que administra todo o
processo, como também o faz, a nossa mente espiritual, quando o caso se relaciona
com as vibrações de terceiros que nos invadem o espírito.
É importante perceber que, uma simples troca de olhares, um aperto de mão, um
abraço, uma relação sexual, por exemplo, são situações em que a troca energética
acontece, independentemente de querermos ou não. Quando a nossa resultante de
defesa vibratória é positiva - normalmente assim o é nas pessoas que tem bom
ânimo, não se deixam entristecer pelos fatos, são disciplinados no campo da oração
e/ou meditação etc. - pouco nos invade a energia alheia, se isto for nos servir de
transtorno ao nosso equilíbrio energético. Ao contrário, se estivermos em baixa
condição de defesa energética, tal qual um prato de alimento estragado que
inapelavelmente irá causar 'estragos" no nosso organismo, a energia deletéria alheia
nos desarmonizará durante pouco ou muito tempo, conforme for a nossa capacidade
psiquica-espiritual em reestabelecer o equilíbrio que nos caracteriza, seja ele de que
nível for.
As crianças pequenas que sequer andam, normalmente tem energia passiva, e sofrem
um bocado quando ficam "passando de braço em braço", recebendo verdadeiras
descargas energéticas que normalmente lhes causam desequilíbrios de toda ordem.
Se os pais terrenos disso soubessem, outras seriam as suas posturas em relação a
permitirem que seus filhos andem de "braço em braço".
Portanto, estamos a todo momento, trocando energia com as pessoas e com os
ambientes que nos rodeiam. O equilíbrio - leia-se, saúde espiritual - de cada um, é o
único antídoto a impedir que as vibrações negativas, alheias à nossa organização
espiritual, penetrem no nosso íntimo. Saber conviver sem sintonizar com a energia de
terceiros é postura que somente os mestres de si mesmos conseguem plasmar na
difícil coexistência com os demais. Ao contrário, se a toda hora temos a sensibilidade
pessoal invadida por problemas e influências de outras pessoas e/ou situações,
ficamos sempre à mercê dos "outros nos deixarem" ficar em paz. Assim, a nossa paz
íntima dependerá dos outros, jamais de nós próprios; o nosso controle será sempre
refém do descontrole alheio; a nossa fragrância espiritual estará sempre mesclada
com a dos outros; enfim, dificilmente conseguiremos ser donos de nossa própria vida.
Se pretendemos ser os arquitetos e atores da nossa própria caminhada evolutiva é
mister que cuidemos do nosso equilíbrio espiritual, escolhendo quando e como
sintonizar com as vibrações alheias, seja em uma conversa, em um convívio mais
íntimo, numa palestra, enfim, numa simples leitura, como é o caso que ora ocorre,
pois, até o que lemos pode nos ser motivo de enriquecimento ou de desarmonia
interior, já que é vibração que nos penetra a alma.
Lembremo-nos de que: a soberania espiritual passa necessariamente pelo controle
das emoções; a saúde do nosso corpo dependerá da qualidade do que nos
alimentamos; o equilíbrio do nosso espírito depende e, em muito, do que nos
permitimos sintonizar, através dos sentidos.
Afinal, se a massa e energia são aspectos de um mesmo padrão existencial, sintonia e
vibração formam o elo entre toda a massa e energia que existe, independente das
formas transitórias que venham a assumir.
Melhoremos a nossa vibração pessoal e eduquemos os nossos padrões de sintonia. Isto
feito, estaremos despertando no nosso íntimo, a grande herança que recebemos do
Pai Celestial.

Jan Val Ellam
Livro: "Queda e Ascensão Espiritual"
Zian Editora
Fonte: www.consciencia.org.br

domingo, 13 de setembro de 2009

VIVENDO PRÓ-FORMEMENTE

A percepção de que respiramos, sentimos, emocianamos e pensamos, nos indica a certeza de estarmos vivos. Mas qual o grau dessa vivacidade ou dessa certeza? Até que ponto estamos realmente vivos?
O cotidiano das coisas à nossa volta nos automatiza o viver de modo que tudo transparece ser tão natural, do tipo acontece por acontecer como resultado de um mecanismo de controle universal regido pelo acaso. Muitos acreditam que a atual ordem das coisas é fruto de um trabalho que se estende por anos e anos a fio e que por isso apresenta pouca ou nenhuma chance de transformação. Entretanto, será que nossa postura diante da vida deve ser categoricamente passiva, a observar os acontecimentos dela como se estivéssemos a assistir um filme?
É justamente disso que precisamos em nossa atualidade existencial: atividade ou participação positiva. Evidentemente que transformações sócio-culturais e suas variantes não irão se concretizar de súbito, porém quanto mais cedo semearmos estas alterações fundamentais, mais cedo outras gerações ou nós mesmos, colheremos os melhores frutos dessa safra de novos e belos paradigmas conscienciais.
Assim, uma nova consciência nasce a partir de um despertar que contemple uma realidade que diverge da atual. Passou da hora de acordar e o mundo incansavelmente sinaliza e conclama mudanças de valores morais entre os seres humanos. É com grande pesar que presenciamos violência, intolerância, misérias e miseráveis, desestrutura familiar, orgulho e egoísmo doentios, depressão e deprimidos, suicídios promovidos por banalidades, etc e ainda estamos aguardando o que mais para uma tomada de atitude mais adequada?
Se é do nosso interesse a paz interior e exterior, a mudança começa pela nossa postura frente ao mundo, se vamos apenas bater palmas e calar-se diante dos fatos mais indignos ou vamos exercer nosso papel de agente transformador com atitudes que promovam a recuperação da dignidade humana em âmbito geral. Já esperamos tempo demais, é preciso tomar as rédeas do tempo e proporcionar melhorias de impacto revolucionário em nossas vidas sob pena de ficarmos apenas contemplando paradigmas insustentáveis à luz da razão e apoiados em falácias que insistem em nos convencer de se adaptar ao quadro vigente acreditando que ele seja preexistente a tudo que se acredita conhecer.

domingo, 30 de agosto de 2009

"SÓ SEI QUE NADA SEI"

Na Grécia antiga havia um homem que interrogava a si e aos outros a respeito das coisas que realmente eles afirmavam saber ou conhecer. Este homem era Sócrates, considerado o Pai da Filosofia pela forma inovadora e lúcida de elaborar o pensamento com vistas à aquisição do conhecimento. No entanto, Sócrates estava muito a frente de seu tempo, vivia numa sociedade mesmo com um grau de cultura adiantado comparada a outras daquela região, ainda cultivava a escravidão em seu seio, denotando que era necessário rever os conceitos acerca da liberdade e sua aplicação.
Ávido investigador social, Sócrates começa a colocar em "cheque" todo um cabedal de informações que a sociedade ateniense julgava como verdades inquestionáveis. Através de uma metodologia que induzia de forma sistemática e lógica o seu interlocutor a entrar em contradição própria, demonstrando assim a fragilidade ou insubstancialidade das suas convicções. Jovens e adultos mais experientes passavam nas vias públicas de Atenas pelo crivo do seu método e as consequentes reações oriundas das frustrações produzidas, colocaram Sócrates na berlinda, provocando revolta e rancor daqueles que se achavam exímios intelectuais e viam-se desqualificados em plena praça pública. O resultado não poderia ser outro, Sócrates é julgado e condenado à morte, acusado de corromper a juventude ateniense por meio de um sistemas de valores ou fatos que antagonizava com o sistema de valores tidos como irrefutáveis daquela época.
Decorridos alguns milênios, encontramo-nos em pleno Século XXI, numa era apoiada na informação e no advento de um mundo globalizado, interligado através da rede mundial de computadores. Tudo que acontece numa parte do globo, reflete quase que instantaneamente nas demais partes. Podemos afirmar que virtualmente não existe mais fronteiras, o conhecimento humano aos poucos vai se universalizando e ninguém no uso inteligente da razão pode se dar ao direito de se postar como detentor das verdades e fatos que nos acometem.
Todos os conhecimentos são sucetíveis de atualizações(updates) ou até mesmo de transformações radicais e a história da humanidade deixa isso muito bem claro. A diferença hoje, no entanto, reside na velocidade em que essas modificações são efetuadas, tudo pode de uma hora para outra, de um período breve de tempo para outro perder a validade total ou parcial de acordo com a profundidade alcançada por tais conhecimentos. Sabiamente, Sócrates se apercebendo das limitações do pensamento e dos órgãos sensoriais, concluiu que aquilo que julgamos saber, não passa de um conhecimento muito superficial e que a apreensão deste, exige sondas de investigação que transcendem nossos órgãos do sentidos encontrando no uso crítico da razão o meio mais eficaz que possui a humanidade.

domingo, 16 de agosto de 2009

Foco de Resistência Inteligente

Enfim, vivemos em pleno Século XXI, a era da informação o que há pouco tempo conhecíamos como informática e atualmente é denominada Tecnologia da Informação(T.I). Como não poderia ser diferente, estes avanços atingiram outros campos do conhecimento e atuação humana, conduzindo tais campos, às suas habilidades e dinamismos. Em particular, nos meios de comunicação esta tecnologia representa um papel crucial em virtude da rotatividade e da ampla variedade de assuntos, fatos, publicidades, etc, a serem trabalhadas. A televisão, por exemplo, ilustra muito bem estes aspectos cujas animações, chamadas, informes publicitários, seduzem e reduzem as atenções ou desejos de seus expectadores para o consumo inconsciente de certos produtos que necessariamente não refletem a sua razão de consumo ou de necessidades.
A interatividade é um dos pilares mais substanciais quando o foco é a audiência avassaladora, pois estimam o grau de audiência de um dado público alvo subdividido em classes que além de "aprisioná-lo" à sua programação milionária. Surge então o Reality Show onde pessoas comuns da população participam de programas e sujeitam-se a certas regras objetivando prêmios em dinheiro ou notoriedade artística e enquanto isso, do lado de fora, a outra parte dessa mesma população através da votação eletrônica irá decidir ou acha que decide à sorte de seus participantes.
Entretanto, eis aqui o nosso foco de atenção fundamental. O que vem a ser mesmo a tal realidade? Será que aquilo que nossos sentidos materiais apreendem através de uma rede neural traduz este quadro com a devida exatidão? As imagens, os sons, os aromas, traduzem o real em sentido mais amplo? Claro que não! É justamente por isso que devemos ter cuidado em nossos julgamentos ou percepções sobre essa tal realidade. Precisamos desenvolver a nossa inteligência através do conhecimento e do discernimento com a intenção de não cair em certas armadilhas dos sistemas de informação, acreditando serem nossas as idéias que eles implantam à nossa revelia.
Tudo aquilo que nos chega deve passar pelo crivo da razão, do bom senso e não do senso comum, o nosso ponto de vista bem fundamentado deve prevalecer frente àquele argumento meramente impositivo apoiando-se apenas pelo consenso de uma maioria que tudo aceita sem o devido questionamento por achar que as coisas obedecem uma determinada normalidade preexistente. Portanto, precisamos resistir de forma inteligente a estes ataques à nossa razão e à nossa personalidade, Faz-se mister o confronto de informações entre o nosso universo interior e aquele exterior manipulado ou estruturado com a intenção de nos subtrair que temos de melhor, provocando a "cegueira" mental e consequente escravização de ideiais nobres que deixamos aniquilar por tão insignificantes recompensas ou prazeres que não nos leva a lugar nenhum, a não ser à falência existencial.

sábado, 1 de agosto de 2009

A VULNERABILIDADE DA RELIGIÃO

Em face de uma vida atribulada, repleta de tantas obrigações, quase não sobra tempo, que praticamente não nos detemos a observar a natureza quando vista por um ângulo diferente daquele oqual nossos olhos habituaram-se a perceber. Quantos processos físicos, químicos, biológicos, psicológicos, nascimentos, mortes, transformações sociais, sistemas de governo, desigualdades das mais variadas formas, etc. Ao que indica, tudo está em constante mudança, até mesmo o Universo é um resultado dessas variações ao longo das eras e não vai parar por aqui!. Ou seja, a natureza apresenta-se nutrida por uma dinâmica bem sincronizada em que cada coisa tem o seu papel assumindo em cada ato o que lhe é pertinente no palco da vida em geral.
Mas, afinal, quem é o responsável por tudo isso? Sem dúvida alguma, dizem que é Deus, isto é, para aqueles que acreditam a existência de tal Ser. Aqueles que pensam diferente evidentemente merecem nosso respeito mesmo que discordemos deles. Há muitas coisas que não ficaram muito bem esclarecidas no trilhar da humanidade ao longo desses milênios no sentido de explicar de forma racional e lógica como este Universo e demais procesos a ele conjugados surgiram. Entretanto, é conveniente admitir que uma inteligência infinitamente superior e atemporal, precedente a tudo , iniciou a dinâmica da criação, não por mero capricho, mas movido por sentimentos tão nobres que certamente estamos longe de apreendê-los em nossa atual fase evolutiva. E ainda admitindo-se que tal inteligência seja Deus, isso levaria a brotar em nós um sentimento de gratidão por tanto que temos a nossa volta. Se existe desigualdades, não é falha de Deus, porém daqueles que fazem mal uso daquilo que possuem, afinal ao entregar seus bens, nos tornamos "gerentes" do seu patrimônio e portanto responsáveis diretos e indiretos pelos acontecimentos que decorrem da sua utilização.
Desta forma, atingimos aqui um ponto singular: Por que a nossa consciência não entrever com máxima clareza que lhe é possível, está tremenda responsabilidade? Neste momento nossos olhos se voltam para a religião, pois ela tem juntamente com seus seguidores, o dever de chamar a atenção de todos para os fatos dessa natureza inegável. Esse é o grande problema, pois nos cerceiam a liberdade de pensamento e ação conscientes à luz da razão e de uma fé raciocinada, sob pena de sermos condenados aos castigos de Deus e suas demais consequencias. Assim, ao invés de desenvolvermos progressivamente a nossa fé, acabamos cultivando uma boa dose de incredulidade que varia da simples negação de certos preceitos ou ensinamentos até a sua mais completa negação que culmina no ateísmo, criando desse modo um clima de aversão a tudo que tem conotação religiosa, daí o resultado final não poderia ser outro que intolerância, incompreensão, violências, etc. Portanto, precisamos sublimar nossos sentimentos à luz da razão e de uma fé racionalizada que consegue enxergar além dos limites materiais do mundo físico e percerber que o nosso criador, seja quem for, não é um carrasco sádico e que nossas próprias ações conscientes ou não, são as causas dos nossos insucessos ou infortúnios. Sendo Deus, Pai e criador, de modo algum ele deseja o mal para nenhum de suas criaturas.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A MORTE DEVAGAR

Martha Medeiros


Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja quem não lê quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O Mistério do Silêncio

Para o homem profano e inexperiente, o silêncio é uma simples ausência de ruídos, sobretudo de ruídos físicos. E, como o ego humano vive no ruído e do ruído, o silêncio representa para o homem profano a morte. O homem comum se afoga literalmente no oceano pacífico do silêncio. Um padre, interrogado se fazia de manhã uma hora de silêncio meditativo, respondeu-me que, se o fizesse, ia enlouquecer. Uma senhora, muito religiosa, afirmou-me que tinha certeza de que nem ela nem ninguém era capaz de fazer meia hora de meditação.
Ouve-se falar muito sobre o que Jesus disse e fez. mas não se fala sobre o que não disse e não fez, por exemplo, sobre os dezoito anos de silêncio em Nazaré e sobre os quarenta dias de silêncio no deserto. Um dos maiores tesouros que o Cristianismo oficial perdeu, nesses últimos séculos, foi, sem dúvida, o tesouro do silêncio dinâmico. E talvez seja esta uma das principais razões da sua ineficiência na sociedade humana. Silêncio é receita - ruído é despesa. E quem tem mais despesas do que receitas abre falência. Aliás, esta nossa pobre humanidade de hoje está permanentemente falida.
A razão deste horror ao silêncio é o conceito radicalmente falso sobre o silêncio. O profano entende por silêncio não falar nem ouvir nada. Outros, mais avançados, incluem no silêncio também a ausência de ruído mental e emocional, nada pensar e nada desejar. Mas entre mil pessoas não encontramos uma que entenda por silêncio uma grandiosa atitude de presença cósmica ou uma fascinante plenitude univérsica. Só pensam em silêncio como ausência e como vacuidade e, como a natureza tem horror à ausência e à vacuidade, esses inexperientes não podem amar e querer bem ao silêncio, que não lhes parece fecundação e enriquecimento da alma. Enquanto o homem vive na falsa concepção, que quase todos nós aprendemos nos colégios e nas igrejas, de que meditação consista em analisar determinados textos sacros, estão todas as portas fechadas e nunca aprenderemos a arte divina do silêncio fecundo e enriquecedor.
Meditar não é pensar. Meditar é esvaziar-se totalmente de qualquer conteúdo do ego e colocar-se, plenamente consciente, como canal vazio, diante da plenitude da fonte, ou em linguagem da Sagrada Escritura:"Sê quieto - e saberás que Eu sou Deus". Ou ainda:"Deus resiste aos soberbos(ego-plenos) e dá sua graça aos humildes(ego-vácuos)". Segundo a eterna matemática cósmica, a cosmo-plenitude plenifica somente a ego-vacuidade, mas não plenifica a ego-plenitude.
Mesmo no terreno meramente humano vale esta matemática: o homem que já superou e se desiludiu da esperança de encontrar na zona meramente periférica das exterioridades relativas e inconstantes a verdade do Uno, dirige-se, como o girassol, ao centro do Absoluto, e constante da Realidade. Quem não vislumbrou, ou pelo menos farejou o Absoluto, o Uno, em longos e profundos mergulhos de silêncio, não sente a vacuidade dos Relativos e o desejo do Absoluto. Pela vacuidade do silêncio prolongado, a plenitude da alma flui irresistivelmente para dentro da vacuidade do cosmos humano. O silêncio é a linguagem do espírito-que é interrompido pelo falar.

Texto adaptado do Livro "Einstein O Enigma do Universo" de Huberto Rodhen.