segunda-feira, 29 de junho de 2009

O Mistério do Silêncio

Para o homem profano e inexperiente, o silêncio é uma simples ausência de ruídos, sobretudo de ruídos físicos. E, como o ego humano vive no ruído e do ruído, o silêncio representa para o homem profano a morte. O homem comum se afoga literalmente no oceano pacífico do silêncio. Um padre, interrogado se fazia de manhã uma hora de silêncio meditativo, respondeu-me que, se o fizesse, ia enlouquecer. Uma senhora, muito religiosa, afirmou-me que tinha certeza de que nem ela nem ninguém era capaz de fazer meia hora de meditação.
Ouve-se falar muito sobre o que Jesus disse e fez. mas não se fala sobre o que não disse e não fez, por exemplo, sobre os dezoito anos de silêncio em Nazaré e sobre os quarenta dias de silêncio no deserto. Um dos maiores tesouros que o Cristianismo oficial perdeu, nesses últimos séculos, foi, sem dúvida, o tesouro do silêncio dinâmico. E talvez seja esta uma das principais razões da sua ineficiência na sociedade humana. Silêncio é receita - ruído é despesa. E quem tem mais despesas do que receitas abre falência. Aliás, esta nossa pobre humanidade de hoje está permanentemente falida.
A razão deste horror ao silêncio é o conceito radicalmente falso sobre o silêncio. O profano entende por silêncio não falar nem ouvir nada. Outros, mais avançados, incluem no silêncio também a ausência de ruído mental e emocional, nada pensar e nada desejar. Mas entre mil pessoas não encontramos uma que entenda por silêncio uma grandiosa atitude de presença cósmica ou uma fascinante plenitude univérsica. Só pensam em silêncio como ausência e como vacuidade e, como a natureza tem horror à ausência e à vacuidade, esses inexperientes não podem amar e querer bem ao silêncio, que não lhes parece fecundação e enriquecimento da alma. Enquanto o homem vive na falsa concepção, que quase todos nós aprendemos nos colégios e nas igrejas, de que meditação consista em analisar determinados textos sacros, estão todas as portas fechadas e nunca aprenderemos a arte divina do silêncio fecundo e enriquecedor.
Meditar não é pensar. Meditar é esvaziar-se totalmente de qualquer conteúdo do ego e colocar-se, plenamente consciente, como canal vazio, diante da plenitude da fonte, ou em linguagem da Sagrada Escritura:"Sê quieto - e saberás que Eu sou Deus". Ou ainda:"Deus resiste aos soberbos(ego-plenos) e dá sua graça aos humildes(ego-vácuos)". Segundo a eterna matemática cósmica, a cosmo-plenitude plenifica somente a ego-vacuidade, mas não plenifica a ego-plenitude.
Mesmo no terreno meramente humano vale esta matemática: o homem que já superou e se desiludiu da esperança de encontrar na zona meramente periférica das exterioridades relativas e inconstantes a verdade do Uno, dirige-se, como o girassol, ao centro do Absoluto, e constante da Realidade. Quem não vislumbrou, ou pelo menos farejou o Absoluto, o Uno, em longos e profundos mergulhos de silêncio, não sente a vacuidade dos Relativos e o desejo do Absoluto. Pela vacuidade do silêncio prolongado, a plenitude da alma flui irresistivelmente para dentro da vacuidade do cosmos humano. O silêncio é a linguagem do espírito-que é interrompido pelo falar.

Texto adaptado do Livro "Einstein O Enigma do Universo" de Huberto Rodhen.

sábado, 13 de junho de 2009

POR QUE AINDA VIVEMOS NAS "CAVERNAS"?

Segundo Platão, podemos dividir o contexto do existir entre duas realidades distintas as quais classificou como: mundo das idéias e mundo das coisas ou material. O mundo das idéias consiste num tipo de realidade que retrata a perfeição em tudo que conhecemos nesta dimensão física, ou seja, uma cópia desta dimensão física levada à máxima plenitude. Em função disso os seres que habitam este mundo das coisas vivem numa forma de ilusão que para eles consiste na mais pura realidade e acreditam que aquilo que vêem, ouvem e sentem, são exatamente da forma como se apresentam. Platão ilustra este apontamento através de um texto chamado de mito da caverna que faz uma analogia do nosso modo de vida semelhante à pessoas que vivem num cinema e aquilo que elas vêem na tela é a sua realidade última.
Mas precisamos sair desta caverna e vislumbrar outras variantes da realidade além daquilo que os nossos sentidos orgânicos nos fornecem de um modo muito limitado apesar de sua enorme utilidade. Entretanto a grande questão é: Como perceber que se vive numa caverna e de que modo podemos almejar sair dela em definitivo?
Parece de certo modo fácil falando dessa maneira, no entanto este conjunto de ações de caráter individual e impessoal, demanda uma quantidade de esforço e trabalho quase sobre-humano por se tratar de um desafio que consiste em vencer ou superar a si mesmo. A maior parte de nós precisa de orientadores que realmente nos desperte neste sentido, trabalho esse iniciado por nossos professores da fase escolar e até da própria Universidade ou Faculdade. Infelizmente temos um modelo educacional muito aquém das nossas necessidades e muito raro encontramos alguém que começou algo neste rumo.
Assim precisamos ler as entre-linhas da vida, perceber os sinais que nos chegam a partir das diversas ações que tomamos no curso natural da nossa vida pessoal e estar receptivo a realizar aquelas mudanças cruciais que fatalmente nos conduzirá à saída da caverna que a nossa estrutura psíquica abriga. Então leituras construtivas que estimulem o nosso intelecto, explore a nossa base racional substituindo paradigmas, removendo certos condicionamentos que carregamos ao longo de tenras idades e fases e a partir daí reunimos mínimas condições com vistas a transcender limites intransponíveis de nossas interiorizações mal elaboradas.
Caro leitor, o processo analisado desta forma deixa claro que pra sair das nossas cavernas ou condicionamentos internos, implica que sem a nossa sincera vontade de transcender nada poderá ser feito e continuaremos aprisionados na ilusão de uma vida real tão virtualmente jamais vivida.
Pense nisso!!!

domingo, 7 de junho de 2009

NECESSIDADE DA CULTURA MORAL

Em Como Vejo o Mundo, Albert Einstein volta os olhos para os problemas fundamentais do ser humano(o social, o político, o econômico, o cultural) e torna clara a sua posição diante deles: a de um sábio radicalmente consciente de que sem a liberdade de ser e agir, o homem-por mais que possua-não é nada. Neste trecho extraído do referido livro, Einstein posiciona-se sobre os impactos da cultural moral bem dirigida e seus efeitos para a humanidade.

Sinto a necessidade de dirigir à vossa "Sociedade para a Cultura Moral", por ocasião de seu jubileu, votos de prosperidade e de sucesso. Não é, na verdade, a ocasião de recordar com satisfação aquilo que um esforço sincero obteve do domínio da moral, no espaço de setenta e cinco anos. Porque não se pode sustentar que a formação moral da vida humana seja mais perfeita hoje do que em 1876.
Predominava a opinião de que tudo se podia esperar da explicação dos fatos científicos verdadeiros e da luta contra os preconceitos e a superstição. Sim, isto justificava plenamente a vida e o combate dos melhores. Neste sentido, muito se adquiriu nestes sententa e cinco anos, e muito se propagou graças à literatura e ao teatro.
Mas, fazer desaparecer obstáculos não conduz automaticamente ao progresso moral da existência social e individual. Esta ação negativa exige, além disso, uma vontade positiva para a organização moral da vida coletiva. Esta dupla ação, de extrema importância , arrancar as más raízes e implantar nova moral, constituirá a vida social da humanidade. Aqui a Ciência não pode nos libertar. Creio mesmo que o exagero da atitude ferozmente intelectual, severamente orientada para o concreto e o real, fruto da nossa educação, representa um perigo para os valores morais. Não penso nos riscos inerentes aos progressos da tecnologia humana, mas na proliferação de intercâmbios intelectuais mediocremente materialistas, como um gelo a paralisar as relações humanas.
A Arte, mais do que a Ciência, pode desejar e esforçar-se por atingir o aperfeiçoamento moral e estético. A compreensão de outrem somente progredirá com a partilha de alegrias e sofrimentos. A atividade moral implica a educação destas impulsões profundas, e a religião se vê com isto purificada de suas superstições. O terrível dilema da situação política explica-se por este pecado de omissão de nossa civilização. Sem cultura moral, nenhuma saída para os homens.